segunda-feira, 24 de setembro de 2012

tijuca, minha

texto de julho de 2008




A Tijuca não existe, e eu, portanto, invento caminhos e pessoas. Mas acreditem em mim quando eu contar isso: 

Tive uma vida de oito anos de aparelho, a conseqüência é um sorriso bacana que condiz com a gargalhada. Agradeço ao Dr. Antônio e a meus pais que pagaram fortunas. Mas no fundo-no fundo, tenho dentes meio fracos, apesar de raízes enormes que quase me matam na hora de arrancar o siso.Bonitinha mas ordinária. Inclusive já tive até que tratar um canal em um dente. Terror, aflição e sangue. Passei um dia coçando a gengiva com a língua. Aquela coisa inicial gostosa. De repente, começou a doer e lá fui eu ao Nilo, dentista da família e meu conhecedor há 20 anos. Figura de sobrenome Máximo. Saí do Nilo com risadas, oralmente anestesiada, broncas por deixar de ir lá e com saudades de andar ao léu pela Tijuca bizola, amada & odiada. Esperava o amor ligar e então fui passear. Praça Saens Peña. Uma mini Copacabana, mas muito mais retrógrada e tradiça. Resolvo sentar num banco onde duas senhoras conversam. Eu sento. A senhora de óculos começa: “Que dentes bonitos você tem!” Rio da coincidência ou da falta dela e da praticidade do mundo se mostrar mundo para mim e agradeço. Ela continua: “Mas você é realmente muito bonita, minha filha”. A amiga, portuguesa por sotaque, emenda: “De fato, um moça muito elegante.” Eu agradeço de boca um pouco torta. E começamos uma conversa pra lá de antiga. Nisso, um homem com calça camuflada começa a pregar a palavra de Deus para uma praça que não lhe olha. Os homens jogam buraco e não ligam. Casais em outro bancos não param o beijo. E o homem urra: “Deus não abençoa os ladrões”. Para meu espanto, a senhora portuguesa até então mais tímida, grita: “Mas o ladrão não nasceu ladrão”. A senhora de óculos, constrangida, faz sssshhhh para amiga que acabara de se revelar anarquista. O amor liga e eu preciso ir embora. Me despeço e ouço um “Cuide bem dos seus dentes, minha filha” que me deixa arrepiada e com vontade de passar fio dental até sangrar tudo. Levanto e vejo uma garça no laguinho que sempre foi sujo e sempre alegrou descamisados no verão. Nisso, uma mulher, já senhora, mas com efeitos de plástica, coordena um fotógrafo atrapalhado: “Isso, aqui, agora assim. Vai” Ela está com um guarda-chuva mezzo brega, mezzo dispensável. Ela senta no chão, aos pés do laguinho tijucano e grita: “Pega a garça ao fundo”. As pessoas param e observam o editorial cafona. Me junto a um grupo de curiosos e tentamos adivinhar quem é ela. Mas desisto de tentar quando dizem que ela fez “Barriga de aluguel”. Minha memória vai até a esquina. E volta. Mas o melhor, o que me fez delirar foi quando uma empregada doméstica (digo isso pois ouvi sua profissão, meu julgamento é tão fora da realidade que poderia pensar qualquer coisa dela) ficou olhando atentamente a modelo sentada aos pés do chafariz, e o fotógrafo Glamour Foto Studio dizendo uma ou outra coisa sem sal. Ao ver um saco plástico compondo a foto, a empregada doméstica não pensou duas vezes: virou diretora de arte. 
- Tira esse saco plástico debaixo do seu pé, minha querida. 
Saco no lixo, flash liberado, foto feita e todo meu amor pela Tijuca de volta. 




sexta-feira, 14 de setembro de 2012

vã___peera

tive um pesadelo carioca. mas antes eu era uma vampira. nunca curti vampiros, livros, filmes, nem aquele melhorzinho com ator bonitinho, nada disso. não por medo, bocejo mesmo. não entro numas, daí quero rir, mas nem rio porque nem é engraçado, aí não dá.
mas daí sonhei que era uma vampira. meus olhos eram incrivelmente vermelhos, e nem sei sei isso é característica. pra você ver, nem lembro dos dentes, dos caninos afiados, só lembro dos meus olhos serem duas poças de sangue.
me mordiam num evento, eu virava uma na hora. daí eu saía na rua e aí PESADELO CARIOCA. o bueiro onde estou pisando vai explodir, não sei como sei ou sinto, só sei que não dá tempo pra nada. o bueiro explode, e porque vejo muitos filmes, essa cena é em slow motion. não morro. mas voo no ar surrealmente. tenho certeza que vou me machucar. talvez não morra porque sou vampira. só pensei isso agora enquanto escrevo. escrever me ajuda a pensar. depois vou para a casa de uma amiga, toda decorada com azeitonas, engraçado. ela tem uma revista chamada "amor de gay" em cima da mesa.
lucas e eu brigamos para achar a casa dela por conta do gps.
essa parte não foi legal. e a culpa como sempre, foi minha. ser mulher pode ser tão chato.
queria ser vampira.