segunda-feira, 31 de maio de 2010

Dian Fossey


dian fossey. pela primeira vez na televisão brasileira. era na cobertura, colégio militar no fundo. o bernardo só quis ver porque tinha gorila e tudo que se mexia ferozmente, ele tinha uma conexão. eu quis ver porque minha mãe veria e eu suspeitava que minha mãe era mais inteligente que as outras. tudo bem que ser professora de francês em 80 e vrauns era algo um tanto quanto comum, mas era dela que eu tinha saído. pois. sigourney weaver já era oitava passageira, mas pra isso eu esquizofrenava e fingia que não, não, não. nunca, nunca, nunca. de noite, claro, eu era visitada por seres de luz, ser índigo era óbvio mas não, não, não, nunca, nunca, nunca. eu achei que era só um filme que a gente veria, mas a mulher morre no final. e uma voz tinha me dito que era baseado em fatos reais. com seis anos então concluí que uma mulher que defendia os gorilas do congo havia sido assassinada por tal coisa. mesmo. foi a primeira vez que o cinema me fez chorar. não era tanto o cinema, era o congo, a ruanda, o gorila e a mulher de cabelo de fogo. mas era por conta da tela que eu chorei. e foi a primeira vez que minha mãe me explicou sobre a morte. não tive bichinhos e nunca os terei porque liberdade é troço demasiado importante pra mim, jamais possibilitaria tal condição a outro animal. meus encontros randômicos com qualquer um, seja barata,tucano ou peixe, me preenchem de curiosidade, a qual eu premio. dian fossey. antes eu só tinha chorado se meu irmão me xingava de dumbo ou se meu pai me dava bronca pela bagunça. eu só tinha chorado por leite, comida, um presente mirabolante no natal, esse choro - o pior, eu ainda não tinha chorado, dian fossey. corri pra cama dos pais, eu precisava dum buraco maior pra rolar. minha mãe veio com voz doce e explicou que a morte, eu já não lembro. mas fez sentido no calor. eu descobri o tempo do fogo.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Ballet da centopeia

escrito em 2008


Confirmo com minha mãe a idade: 3 anos. Três anos tinha eu quando sofri um acidente que é minha primeira lembrança de vida. Antes disso, não me passa nada. Vejo as fotos, rio das minhas caretas, estranho tanta orelha para tão pouca criança, mas não lembro de nada. O estalo de que “sim, eu vivi isso, eu lembro disso, isso não é uma história que minha vó conta, eu estive lá!!!” só chega com meus três anos e um acidente que sofri no banheiro. Estava brincando com Kátia, minha empregada, com duração de 16 anos, que um dia virou dona de padaria – não são incríveis os humanos?, quando de repente lancei a escova que estava na minha mão contra o espelho. Quebrei um espelho com três anos, o que calculando, justifica qualquer azar que sofri até os dez anos. E acreditem, foram alguns. Sim, você pode me contar sobre a África ou nem precisamos ir até tão longe, o sertão nordestino, ou mais perto ainda, crianças sem sorte alguma equilibrando limões no ar, enquanto você reclama do seu carro sem ar-condicionado. Beleza. Beleza não. Feiúra. Feiúra demais. Me assusta, me deprime, questiono a humanidade, eu incluída. Mas problemas não são comparáveis, um dia me ensinaram, e fez tanto sentido, que tenho até medo de (me) assustar. Seu pai morreu e isso é arrebatadoramente doloroso, mas eu tenho direitos de achar uma grande tragédia o sapato mais lindo que já vi na vida não ter o meu número. Eu posso. Assim como você também pode me julgar por isso. Bem, dizia eu que minha primeira lembrança envolve um espelho quebrado. Carrego a mínima cicatriz no nariz até hoje. As fotos só denunciam quando há luz solar e foco. Tudo bem. Sempre tive um ligeiro tesão em cicatriz. Demonstrações físicas que aquela pele viveu - ou sobreviveu? Minha mãe era muito bonita, continua sendo, mas com o brilho dos trinta e poucos, ela iluminava salas e ônibus. Eu nasci com orelhas de abano, e preciso rir um pouco: HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA. É engraçado, vai. Eu era uma xícara. Era absurdo. Imagino meus pais assumindo um para o outro que sim, eu tinha um (d)efeito especial, com o qual eles não esperavam. Mas porque o reino das crianças é antes de tudo, sagrado, aquilo nunca havia me incomodado. Meu irmão deixava escapulir o óbvio: “Dumbo! Toppo Giggio!” Mas assim são irmãos, não? Tudo bem, eu também gritava “Adotado!” vez ou outra. Eu sabia que minha orelha era maior que a de todo mundo, mas assim também eram meus braços, minhas pernas, minhas mãos, então a lógica me aliviava e minha mãe fazia penteados que disfarçavam. E o que era brincar de pique-esconde, elástico, queimado, papeis de carta? Ora, por favor, orelhas, fiquem aí caladas. Com sete anos, nossa única decisão é se queremos ir ao banheiro. Então, foi assim que soube que iria fazer uma cirurgia corretiva. Não, não diziam “plástica”. Agora pausa. Como é costume meninas fazerem balé, minha mãe, como de costume, me colocou no curso de balé de um clube que havia perto da casa da minha vó Marphisa. Naquele ambiente minhas orelhas eram iguais às das meninas, por conta da faixa. Mas alguma coisa em mim não era igual. Elas eram fadinhas, sininhos, coisinhas, delicadinhas. Eu já achava o máximo saber dar estrela, algumas meninas até, entusiasmadas, me pediam para fazer ao final da aula. Eu fazia e me achava tão poderosa. A professora mór do curso era russa. O nome dela era Noêmia. E ela não gostava muito de mim. O clube era judeu, eu era filha de médium de Umbanda e uma yogue, mas acredito que ela não soubesse daquilo. Ela não gostava de mim, porque ela não gostava de mim. Um dia entrou na sala com aquele cheiro de russa (acredito eu que um dia irei à Moscou e sentirei aquele cheiro), olhou para mim e disse: “Você nunca será graciosa”. Assim, ponto. Eu nunca serei graciosa. Alguma coisa doía na garganta, mas eu não sabia dizer, e logo a aula acaba e eu ficava em frente ao espelho colocando os pés na cabeça, causando risadas com as judiazinhas. Outra vez comentou do meu cabelo. Disse que quem tinha o cabelo ruim como o meu não poderia esquecer a rede – eu tinha esquecido a rede nesse dia. Minha mãe me buscava e eu pensava que o cabelo dela era bem bonito, não era tão justo ter aquele cabelo ruim e ainda por cima esquecer a rede. O tormento durou pouco. Entrei no balé em fevereiro. Em abril, tivemos nossa primeira apresentação. Se tivesse sido a primeira vez que pisei num palco teria sido traumático, ainda bem que no ano anterior eu havia sido a borboleta mór da peça do jardim II. Que ufa! A apresentação ia tratar da páscoa. Iríamos usar a mesma roupa da aula, apenas com enfeites de coelhinha. Rabinho, orelha, bigodinho. A pompa. Alguma coisa, além de sangue, já corria no meu corpinho, espantosamente grande para a idade. Excitada, sem ser graciosa, eu me aprontei na frente do palco, cortinas fechadas, aquele burburinho da platéia familiar “oi, mãe, olha como eu sou bonita também”, Freud me segreda anos depois. Noêmia foi fazer considerações finais. (vou ter que tirar a música que havia colocado, rolou uma emoção escrota agora, não quero sentir isso, só quero escrever) Para cada menina, ela dava um recado: “Pezinho! Postura! Coluna! Sorriiiiiso!” Coisas assim. Minha vez se aproximava, e meu coração não podia caber mais naquele tórax infantil. Eu tinha olhos grandes, bolas castanhas, bem claras, com pintas dentro, uma cicatrizinha no nariz, um sorriso abraçador. Sobrancelha de gente boa, dizem até hoje. Eu era tão bonita. Eu tinha sete anos e eu era tão bonita, eu sei hoje. Pois Noêmia, russa, loira, olhos claros, uma das chatas fundadoras do balé russo no Brasil, me olhou dos pés à cabeça e disse apenas: “HORROROSA”. E seguiu adiante. Alô? Eu não to ouvindo nada! Alô? Mãe? Pai? Polícia? Deus? Quem? Nunca entendi crueldade com criança, pedofilia me dá arrepios no couro cabeludo, até um simples susto com pequenos, eu já sou contra. Fiquei trincada. Acho que é isso. Escolho bem a palavra pra explicar aquela sensação. Eu tinha um sorriso grande, largo. Eu fechei a boca de maneira bem assustadora, não assustada. A cortina abriu, era Páscoa, afinal, os pais com suas máquinas antigas batendo fotos, as mães emocionadas, eu, HORROROSA - com sotaque russo, please, na pontinha do pé, orelhas de abano escondidas numa faixa, que também escondia um cabelo, que era ruim, pelo visto. E porque, claro, minha memória é minha amiga, já não lembro de mais nada. Comecei a ter dor de barriga e vomitar quando minha mãe dizia que era hora do balé. Tipo vomitar mesmo. Cheguei a vomitar verde, mamãe disse. Ela estranhou. Eu, mais estranha ainda, não contava o ocorrido. Como ter 6 anos (eu disse 7 antes? Sete foi minha cirurgia, esse lance do balé foi com 6) e dizer para a mãe que a fodona do curso do balé, não um Zé Ruela, não o Juquinha chato do colégio, mas a Noêmia, a DONA do curso, disse que sua filha é HORROROSA. Ah sim! Disse também que JAMAIS será graciosa. Tudo olhando no olho. Como dizer? Não disse. Vomitava e fazia mais merda do que de costume. Minha mãe, boa pisciana, sensível, sacou clima ruim no ar e me tirou do balé em maio. Meus irmãos faziam ginástica olímpica e pareciam felizes, era assim que minha mãe queria me ver. E realmente, um lugar onde as pessoas dão estrelas, foi bem melhor para mim. Esqueci, esqueci, esqueci, esqueci. Afinal, o que era o pique esconde, o elástico, o papel de carta? Eu sempre funcionei com a lei das compensações. No ano seguinte, operei as orelhas. Anestesia geral. Punk Brewster. Me lembro do médico dizendo que eu ia dormir... domir..... Acordei com um capacete na cabeça. Perdi aula, tomei pontos. Ganhei minha única Barbie. Cantora, claro. Minha única Barbie foi uma que tinha um microfone. Não é incrível a vida? Às vezes? OK. Orelhas resolvidas. (tive que usar uma faixa de balé para manter, quem disse que consegui? o balé era alergia na certa, por isso até hoje, estou aqui, meio elfa, sem ser... OK. beleza. EU ESTOU ÓÓÓÓÓÓTIMA, hein, amigos? resolvi caps lockar para ninguém ficar preocupado. eu estou ótima) Sim, orelhas corrigidas. Mas o que fazer com pés que avançaram além da indústria dos calçados? O que fazer com um tamanho além das camas para adolescentes? Onde encaixar nariz, braços, pernas? (estou ouvindo Jorge Bem, uma música tão linda, chama “Quase colorida”)

Noêmia morreu. Um dia li no obituário (peguei essa mania da minha vó, de ler obituários, enfim, rolam uns nomes engraçados, eu gosto, poxa, sei lá, mil coisas). Dei uma gargalhada quando ela morreu. Morreu velha já. Eu era a única torturada por ela? Ou quantas meninas eu deveria procurar até fundar um clubinho? Cresci. Adolescentei. Achava um saco. Queria o elástico, o pique, o papel de carta. No colégio eu não era graciosa e nada linda. Eu era um ponto de interrogação ambulante. Transitava por todos. Falava com o menino mais bonito do colégio e com o mais nerd. Era representante de turma. Fazia os trabalhos mais legais (os professores faziam questão de escrever isso na minha camisa, no final do ano, eu sorria, vibrando). Claro que o mal sempre ronda. E por que essa menina, alta, magrela, é tão assim cheia de sorrisinhos, hein? Ah, não pode. Vamos acabar com ela? Vamos! Talvez seja esse o raciocínio da turma cruel. E passando no corredor ouvia baixarias, alusões a animais, especulações sobre minha opção sexual, comentários sobre pés, cheiro, nariz, cabelo, bunda. Tudo que você possa imaginar. Não vomitava mais. (não vomito desde criança, mas isso é outra história). Tampouco contava à minha mãe. Escrevia muito. E delirava. Adorava delirar deitada na cama. Os lugares que eu iria conhecer, as praias que eu mergulharia, os filhos que eu teria, os homens que eu beijaria. Envelhecer era urgente para mim. Sair da mediocridade do colégio era mais do que necessário. Ah, essa cabra que me habita e que fermenta lentamente.

Isso está ficando muito grande. Faz sentido. Foram tantos “horrorosas”, que o que eu esperava para mim hoje não é o que é. Eu esperava bem menos para mim. Hoje me olho no espelho, com cuidado para não quebrar e essa ser a minha memória mais chata dos meus 26 anos, e vejo uma peça bonita. Um conjunto de partes bacanas. Encaixadas, fazem um formato curioso. Eu sou curiosa. Se você está lendo até aqui, é porque eu sou curiosa. E é bom poder ser. A graça não veio, mas veio a curiosidade. Premiada. Vez ou outra, ainda faço caretas. Não sei ser bonita parada como essas belas. Quando percebo olhar constante para cima de mim, ou eu quebro um copo, ou conto uma piada, ou fico vesga – coisa que faço desde... hum, sempre? Outro dia o amor me olhava, e tem esse peso diferente. Silêncio, e o amor te olha. Nossa. Apelei para minha menina vesga guardada. Ao que ele comentou: Não precisa fazer isso não. Eu só quero te olhar e te ver assim, como você é: linda.

Derreti. Noêmia no inferno sendo azucrinada por trocentas crianças (d)eficientes. Rá! Deliro ainda. Eu, já bonitinha, devaneosa e cantarolando Jorge.


too many words

terça-feira, 25 de maio de 2010

{}

fauna, flora, intestino, instinto:
inconstitucionalissimamente

desvio

quando eu acho alguma coisa bonita, ou estou prestes a me emocionar (fui redundã?), meu olho sai do foco principal e me concentro em partes aleatórias. uma mulher dança, eu estou olhando para a câmera do homem que a filma. um bebê sorri gengivas, meus olhos depositados no forro do carrinho. não há de ser nada, ou há, edna?

diadeq

os dias já têm donos: mães, pais, cristo, tiradentes. tento roubar o meu. minha nata do sol.

domingo, 23 de maio de 2010

after zzz

Outro dia sonhei que sentava no colo do Steve Martin, no clube dos ricos, e ele me dizia uma coisas bonitas no ouvido. Ele tinha aquela cara de sempre, era uma coisa tesuda. No outro dia, foram cobras, elas eram pequenas numa caixa de sapato, eu pensava "que bom que elas são pequenas", e em um segundo elas cresciam bizolamente, me assustando de me deixar muda. Acordei suadinha. Anteontem foram freiras que me impediam de fazer um lance, que já não lembro. Essa semana também fiquei grávida, era bonito da porra esse, até sangrava, mas era coisa boa. E hoje eu estava no sítio, o Gregório e o Caruso num jipe iam pra grama, eu dizia "Aí não, vocês tem que subir", eles iam pra parte de cima, eu estava dentro de um set de filmagem, depois encontrava o Lucas, alguma coisa sexual rolava. Engraçado que depois de 15 anos sonhando com água toda noite, até que eu voltei pra terra.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

living inna hole



















Depois das casas nas árvores, chegou agora o buraco na terra. Caprinamente me seduzo, mas cogito uma mini-claustro. Inteligente, de qualquer maneira. Na Suíça, com obviedade.

terça-feira, 18 de maio de 2010

sobre a fala

Uma das minhas sete lembranças da faculdade de letras – sempre me pareceu muito engraçado dizer “faço letras”, até porque eu sempre tive no mínimo 3 tipos diferentes de caligrafia numa mesma redação, lucas diz que é coisa de gênio, eu acho que é preguiça de continuidade, allonsenfants: sempre achei engraçado afirmar “faço letras”. “Belas artes” também. Quando o literal me pega, dou gargalhada. Tentando voltar, lembro de uma professora de lingüística (meu interesse pela faculdade era tamanho que acabei repetindo tal matéria, junto com latim e português, quem diria) que contou a seguinte história: ela tinha uma filha de 3 anos que já falava quase tudo, formava frases, sabia conversar. A professora ganhou uma bolsa na Europa, lance imperdível, teve que ir, deixou a filha com o marido (posso estar inventando aqui) e quando voltou 6 meses depois (ou foi 1 ano?) a menina tinha desaprendido todas as palavras, não falava mais nada. Nunca mais esqueci dessa história, não sei o que a professora fez, se levou a garota na fono ou se aplicou toda a academia que morava no cérebro e em seu cu (era um ambiente muito difícil, a faculdade de LETRAS, muito difícil). Liguei a um filme sensacionalista que passou numa madrugada da minha infância sem sono, chamado “Caroline”. E quando aquela voz avisava que era baseado em fatos reais, nossa, eu já estava toda cagada. Fácil de impressionar, bobinha. Uma mãe norte-americana psicopata matou os filhos menores na banheira, troço assim, a filha mais velha viu, já tinha seus 11 ou 13 e também perdeu a fala, tamanho choque. Tenho 5 anos, lembro das meninas da sala dizendo os nomes com vozes meigas, doces. Quando perguntavam o meu, volto a lembrar da cara da Tia Concheta, professora do jardim e rima fácil para os que tinham irmãos mais velhos. Uma mini taquara, grave sem controle, respondia. Como se meu nome de repente fosse “Letctctct íííííxxxxx CIAAAAKKYYWWW”. Ano passado, três amigos foram para retiros onde não era possível falar. Contam de suas entregas e também de um ansioso ou outro que esbugalhava os olhos, numa tentativa de comunicação. Dez dias sem falar. Duvido que eu consiga. Por agora. E se conseguir, já ouço o questionamento alheio de “qual é o problema?”, sendo que nenhum, e não o faria por ser cantora e achar que devo preservar minha voz. Faria pra ver onde ela pararia. Onde estaciona a voz? Lembro das aula de voz, lembro da Rose mandando a gente engolir. Engole, engole. E aonde chegava? Minha voz quando vi o Lucas pela primeira vez. Disse: “Oi, ilustrador” e ainda bem que ele não me conhecia, pois se não saberia que aquela voz não era minha voz cotidiana, a voz cocô-xixi-meleca. Era uma voz com depósito, meio trêmula, mas segurada, eu diria. Minha voz quando vi meu sobrinho pela primeira vez. Revendo o vídeo que Lucas fez, pareço uma galinha com TPM, sendo obrigada a chocar ovos. Histérica. E aguda. Volto pra filha da professora de Lingüística e também me imagino sendo abandonada, perdendo os amores que tenho e me vejo muda. Mudinha. Vai faltar. Sei que voz é troço importante. Quase sempre me aborreço com alguma. Seja pelo tom ou pela falta de clareza. Ou pela feiúra mesmo. Existe, lamento. Mas existe. Agora estou apaixonada pela voz de Arthur, menino de 1 ano e 7 meses, filho de uma mulher que faz pilates no mesmo lugar que eu. Arthur me vê e diz “Afa” para girafa. Depois “uga” para tartaruga. Deliro com a vitória que deve ser conseguir articular pensamento, lógica e o ato em si. Sempre lamentei a falta de memória da infância, queria mais daquilo que considero ser uma época mágica e deslumbrante da minha vida. Mas outro dia desisti dessa saudade. Porque o pensamento infantil é extremamente livre e permissivo e grande. Imagina se lembrasse de um dia que fiquei horas olhando para bolas coloridas, sendo que as bolas não eram só bolas, eram mundos, cada uma, e cada cor me invadia e me abraçava, e sim, quase como lisergia, eu era as bolas e tocar minha boca nelas era extremamente prazeroso e e e e e e. Não poderia mesmo lembrar, ia embaralhar tudo. O cérebro é sábio, e duvidamos. Talvez ficasse cansada com tanto acúmulo. Hoje falei pouco. Arrisco 5 mil palavras, longe da média de 20 mil das mulheres. Ficou curioso sobre os homens? 7 mil. Amo. Amo minhas 20, amo as 7 dele. Sozinha no espelho rola demais, no banho. Medo se me flagram. Porque aí falo diferente, mirabolâncias vem à tona, fico lelé lelé. Muito íntimo seria se me pegassem falando sozinha. Outro dia subi a serra sozinha, uma da manhã no carro. Breu, sem som. Até eu queria ter gravado tudo o que eu disse. Esqueci que a lua estava cheia.

me fudendo em 3, 2, 1

pois é

quinta-feira, 13 de maio de 2010

terça-feira, 11 de maio de 2010

HIPERBÓLICA

Sou um tiquinho estranha
E tenho reações ao cubo
Assustando amigos e amores
Sempre acham que há uma barata
Ou um fantasma
Tamanho olho eu projeto
Além
Sou um tiquinho dramática
Brasileira, por acaso